Para
Laura, quarta-feira tinha sido um excelente dia, até que, ao sair da escola, saído
da esquina mais próxima, um homem encapuçado correu na sua direção. Rapidamente, enfiou-lhe um saco na
cabeça e arrastou-a até um carro
estacionado com a mala aberta, empurrando-a brutalmente e fechando-a naquele espaço
tão apertado. Laura ouvia a multidão a
gritar depois de assistir ao que acontecera mas o carro já estava em movimento
acelerado.
A
Laura só pensava na mãe e no pai, mas naquele momento não podiam fazer nada por
ela. Tinha de enfrentar aquilo sozinha.
Foi
deixando de ouvir o ruído da multidão até que lhe chegava apenas o som da rádio
que o condutor do carro levava ligado. Passava o noticiário das seis da tarde,
da Rádio Comercial, que ela ouvia sempre com muito gosto.
"Ultima
hora", dizia um jornalista: “Aluna do Agrupamento de Caldas de Vizela
raptada à saída da escola”.
A
notícia sossegou Laura. Era sinal que a polícia já estaria a iniciar as buscas.
Mas
o raptor entrou em sobressalto, desligando a rádio, irritado. A aceleração do
carro aumentou enquanto Laura gritava, sentindo-se cada vez mais enjoada e desesperada
porque o telemóvel estava na mochila que o raptor lhe tinha tirado. O aviso do
raptor foi claro:
-Está
calada, ou pode ser bem pior!
A
certo momento, o carro parou bruscamente e Laura perdeu a consciência ao bater
com a cabeça.
Quando
acordou, encontrava-se sozinha, num sítio sombrio, com muita vegetação. Era
quase noite e por mais que olhasse à sua volta, não estava a reconhecer o lugar.
Até
que ouviu passos e galhos a partir. Era o sequestrador. Continuava encapuçado.
Muito
assustada com o que poderia acontecer-lhe, Laura pôs-se a gritar.
-
Cala-te!- disse o sequestrador, dando-lhe um estalo - E se tentares fugir vai ser pior para ti e
para os teus pais!
- Eu
quero ir para casa, por favor ! - implorou - O que é que eu faço aqui?
-
Não divulgo informações. - respondeu o raptor, a voz abafada pelo capuz.
-
Diz-me! É um resgate? É isso que queres?- perguntou aflita.
O desconhecido virou-lhe as costas sem revelar
o que tinha em mente. Laura deixou-se ficar quieta, paralisada de medo, de frio
e de fome naquele sítio cada vez mais escuro.
Afastados
dali, os seus pais passaram a noite na esquadra, desesperados, à espera de
notícias que não chegavam, nem boas nem más... Até que o telemóvel do pai da
Laura tocou. O número era desconhecido.
-
Estou! Quem é?- atendeu o pai, ansioso.
-Sabes
muito bem quem eu sou! – respondeu o raptor.
O
pai reconheceu logo a voz:
-Porque
nos estás a fazer isto? Que mal é que aminha filha te fez?- perguntou o pai da
Laura, preocupado.
-Tu
bem sabes o que fizeste! Roubaste-me a vida, tudo o que eu tinha!
- A
culpa não foi minha!- justificou-se o pai.
-
Então, se eu matar a tua filha, a culpa também não é minha! – exclamou o raptor
exaltado.
- Já
te disse que a culpa não foi minha, tu é que investiste o teu dinheiro naquelas
ações! Eu não tenho nada a ver! – gritou o pai, ainda mais aflito com a
situação da Laura.
-
Não, não, não, meu amigo. Tu garantiste que era seguro investir nelas. Cem mil
euros, foi o que eu investi. As poupanças da minha vida. Mas o que mais me
custou foi perder os meus filhos e a minha mulher! – afirmou o raptor um pouco
triste mas zangado ao mesmo tempo.
O
pai não desistiu e continuou a tentar convencê-lo a trazer Laura de volta.
-
Dou-te o dinheiro do teu investimento, mais se for preciso, dou-te tudo o que
quiseres – disse o pai da rapariga. Estava a ficar sem soluções.
- Eu
quero a minha família de volta, algo que não me podes dar! Mas há três coisas
que vais ter que fazer se quiseres ver a
tua filha viva: 1º - não podes dizer a ninguém quem eu sou; 2º vais dar o
dinheiro de volta a toda a gente que roubaste; 3.º quero fazer-te sofrer como
tu me fizeste a mim!
E
desligou o telemóvel.
O
instinto do inspetor chefe disse-lhe que havia alguma coisa de errado.
- Quem
estava do outro lado, Sr. Pereira?
-
Ligaram-me do meu trabalho – respondeu o pai de Laura, tentando disfarçar a
mentira.
-
Tem a certeza? Já tenho muitos anos de experiência e alguma coisa me diz que o
Sr. está com medo de contar a verdade. Sabe que, se não colaborar com a polícia,
é tão culpado como o sequestrador pelo que possa vir a acontecer à sua filha.
Tem a certeza de que não me quer dizer nada?
-
Tem razão, era ele. - suspirou o pai de Laura.
A
dona Márcia, mãe de Laura, implorou ao
marido que contasse tudo.
O Sr.
Pereira começou por revelar o nome do sequestrador: Edmundo Faria. Tinha sido cliente
da sua agência de operações financeiras de risco. Com o tempo tinham-se tornado
amigos ... até àquele infeliz investimento.
Quanto
à segunda condição imposta pelo sequestrador, não tinha soluções porque não
tinha dinheiro para pagar a todos os que tinham sido prejudicados pelos seus
falsos “bons conselhos.”
-
Quanto a isso nada podemos fazer de momento, depois pensamos melhor.- explicou
o inspetor chefe de forma muito prática -
A nossa preocupação maior é a Laura que continua desaparecida, à mercê de um
desequilibrado com sede de vingança. O homem não tem nada a perder e pode, a
qualquer momento, cumprir a terceira condição!
-
Então o que é que eu posso fazer? – insistiu o pai.
-
Telefone para a Laura e, se o sequestrador atender, localizamos o telefonema.
O
pai fez a ligação e o raptor atendeu.
- O
que é que queres agora? – perguntou o raptor, zangado.
-Quero
dizer-te que vais ser apanhado.
O raptor,
ao ouvir aquilo, desligou o telefone num ato de fúria.
-Conseguimos
localizar a chamada – informou um agente.
Então,
os pais e uma brigada especial meteram-se
nos carros e dirigiram-se à localização da chamada.
O
raptor, surpreendido pela chegada da polícia, sacou uma arma e ameaçou matar a
Laura e quando a polícia se aproximou, pronta a disparar, Edmundo usou a Laura
como escudo humano. Numa questão de segundos, o pai percebeu que a filha estava
perdida. Correu para ela e o tiro da polícia, dirigido ao raptor, acabou por
atingi-lo. O raptor ficou paralisado largando Laura que se agarrou ao pai.
Estava morto. Edmundo suicidou-se de seguida.
"Quem escreve um conto, acrescenta
um ponto", 7.º ano, maio 2017
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