quinta-feira, 11 de maio de 2017

7.º ano - Amigos amigos, negócios à parte







Para Laura, quarta-feira tinha sido um excelente dia, até que, ao sair da escola, saído da esquina mais próxima, um homem encapuçado correu na sua  direção. Rapidamente, enfiou-lhe um saco na cabeça e arrastou-a  até um carro estacionado com a mala aberta, empurrando-a brutalmente e fechando-a naquele espaço tão apertado. Laura  ouvia a multidão a gritar depois de assistir ao que acontecera mas o carro já estava em movimento acelerado.
A Laura só pensava na mãe e no pai, mas naquele momento não podiam fazer nada por ela. Tinha de enfrentar aquilo sozinha.
Foi deixando de ouvir o ruído da multidão até que lhe chegava apenas o som da rádio que o condutor do carro levava ligado. Passava o noticiário das seis da tarde, da Rádio Comercial, que ela ouvia sempre com muito gosto.
"Ultima hora", dizia um jornalista: “Aluna do Agrupamento de Caldas de Vizela raptada à saída da escola”.
A notícia sossegou Laura. Era sinal que a polícia já estaria a iniciar as buscas.
Mas o raptor entrou em sobressalto, desligando a rádio, irritado. A aceleração do carro aumentou enquanto Laura gritava, sentindo-se cada vez mais enjoada e desesperada porque o telemóvel estava na mochila que o raptor lhe tinha tirado. O aviso do raptor foi claro:
-Está calada, ou pode ser bem pior!
A certo momento, o carro parou bruscamente e Laura perdeu a consciência ao bater com a cabeça.
Quando acordou, encontrava-se sozinha, num sítio sombrio, com muita vegetação. Era quase noite e por mais que olhasse à sua volta, não estava a reconhecer o lugar.
Até que ouviu passos e galhos a partir. Era o sequestrador. Continuava encapuçado.
Muito assustada com o que poderia acontecer-lhe, Laura pôs-se a gritar.
- Cala-te!- disse o sequestrador, dando-lhe um estalo -  E se tentares fugir vai ser pior para ti e para os teus pais!
- Eu quero ir para casa, por favor ! - implorou - O que é que eu faço aqui?
- Não divulgo informações. - respondeu o raptor, a voz abafada pelo capuz.
- Diz-me! É um resgate? É isso que queres?- perguntou aflita.
 O desconhecido virou-lhe as costas sem revelar o que tinha em mente. Laura deixou-se ficar quieta, paralisada de medo, de frio e de fome naquele sítio cada vez mais escuro.
Afastados dali, os seus pais passaram a noite na esquadra, desesperados, à espera de notícias que não chegavam, nem boas nem más... Até que o telemóvel do pai da Laura tocou. O  número era desconhecido.
- Estou! Quem é?- atendeu o pai, ansioso.
-Sabes muito bem quem eu sou! – respondeu o raptor.
O pai reconheceu logo a voz:
-Porque nos estás a fazer isto? Que mal é que aminha filha te fez?- perguntou o pai da Laura, preocupado.
-Tu bem sabes o que fizeste! Roubaste-me a vida, tudo o que eu tinha!
- A culpa não foi minha!- justificou-se o pai.
- Então, se eu matar a tua filha, a culpa também não é minha! – exclamou o raptor exaltado.
- Já te disse que a culpa não foi minha, tu é que investiste o teu dinheiro naquelas ações! Eu não tenho nada a ver! – gritou o pai, ainda mais aflito com a situação da Laura.
- Não, não, não, meu amigo. Tu garantiste que era seguro investir nelas. Cem mil euros, foi o que eu investi. As poupanças da minha vida. Mas o que mais me custou foi perder os meus filhos e a minha mulher! – afirmou o raptor um pouco triste mas zangado ao mesmo tempo.
O pai não desistiu e continuou a tentar convencê-lo a trazer Laura de volta.
- Dou-te o dinheiro do teu investimento, mais se for preciso, dou-te tudo o que quiseres – disse o pai da rapariga. Estava a ficar sem soluções.
- Eu quero a minha família de volta, algo que não me podes dar! Mas há três coisas que vais ter que  fazer se quiseres ver a tua filha viva: 1º - não podes dizer a ninguém quem eu sou; 2º vais dar o dinheiro de volta a toda a gente que roubaste; 3.º quero fazer-te sofrer como tu me fizeste a mim!
E desligou o telemóvel.
O instinto do inspetor chefe disse-lhe que havia alguma coisa de errado.
- Quem estava do outro lado, Sr. Pereira?
- Ligaram-me do meu trabalho – respondeu o pai de Laura, tentando disfarçar a mentira.
- Tem a certeza? Já tenho muitos anos de experiência e alguma coisa me diz que o Sr. está com medo de contar a verdade. Sabe que, se não colaborar com a polícia, é tão culpado como o sequestrador pelo que possa vir a acontecer à sua filha. Tem a certeza de que não me quer dizer nada?
- Tem razão, era ele. - suspirou o pai de Laura.
A dona Márcia, mãe de Laura,  implorou ao marido que contasse tudo.
O Sr. Pereira começou por revelar o nome do sequestrador: Edmundo Faria. Tinha sido cliente da sua agência de operações financeiras de risco. Com o tempo tinham-se tornado amigos ... até àquele infeliz investimento.
Quanto à segunda condição imposta pelo sequestrador, não tinha soluções porque não tinha dinheiro para pagar a todos os que tinham sido prejudicados pelos seus falsos “bons conselhos.”
- Quanto a isso nada podemos fazer de momento, depois pensamos melhor.- explicou o inspetor chefe de forma muito prática  - A nossa preocupação maior é a Laura que continua desaparecida, à mercê de um desequilibrado com sede de vingança. O homem não tem nada a perder e pode, a qualquer momento, cumprir a terceira condição!
- Então o que é que eu posso fazer? – insistiu o pai.
- Telefone para a Laura e, se o sequestrador atender, localizamos o telefonema.
O pai fez a ligação e o raptor atendeu.
- O que é que queres agora? – perguntou o raptor, zangado.
-Quero dizer-te que vais ser apanhado.
O raptor, ao ouvir aquilo, desligou o telefone num ato de fúria.
-Conseguimos localizar a chamada – informou um agente.
Então, os pais  e uma brigada especial meteram-se nos carros e dirigiram-se à localização da chamada.
O raptor, surpreendido pela chegada da polícia, sacou uma arma e ameaçou matar a Laura e quando a polícia se aproximou, pronta a disparar, Edmundo usou a Laura como escudo humano. Numa questão de segundos, o pai percebeu que a filha estava perdida. Correu para ela e o tiro da polícia, dirigido ao raptor, acabou por atingi-lo. O raptor ficou paralisado largando Laura que se agarrou ao pai. Estava morto. Edmundo suicidou-se de seguida.


"Quem escreve um conto, acrescenta um ponto", 7.º ano, maio 2017

Sem comentários:

Enviar um comentário