domingo, 8 de outubro de 2017

Contos do mundo

Os contos e as lendas são registos usados pelas diferentes comunidades e culturas como forma de disseminação e assimilação de alguns dos valores que as caraterizam.
Este outubro, este mês das Bibliotecas Escolares, iremos contribuir para esta disseminação publicando, semanalmente, um conto de diferentes comunidades.
Este, que hoje é postado, foi retirado da obra de João Pedro Mésseder e Isabel Ramalhete, Contos e Lendas de Portugal e do Mundo, da Porto Editora.

Os dois amigos


Lenda árabe
Dois amigos viajavam pelo deserto, caminhando em amena conversa, apesar do sol abrasador. Um deles, porém, sentindo-se contrariado pelo outro, encetou uma discussão. Erguia a voz, gesticulava e pouco faltou para insultar o companheiro. Em dado momento da contenda, não resistiu e esbofeteou-o.
Admirado e ofendido, mas sem nada dizer, o amigo baixou-se e ecreveu na areia: Hoje, o meu melhor amigo bateu-me no rosto.
Seguiram viagem,  tristes e em silêncio. Absortos nos seus pensamentos, fixavam os olhos num ondulante horizonte de dunas e já caminhavam com dificuldade sob o ardor do sol. Até que avistaram um oásis verde, emergindo da areia escaldante do deserto. Mais aliviados à sombra das tamareiras, resolveram banhar-se, comer e pernoitar no local.
Afastou-se um para recolher galhos com que pretendia acender um pequeno fogo. E o que tinha sido esbofeteado despiu-se, mergulhou na lagoa do oásis e principiou a refrescar-se. Contudo, passados minutos, perdeu o pé. E em breve se afogaria, não fosse a ajuda do amigo que, ao escutar os gritos, largou tudo e acorreu ao chamamento, mergulhando na lagoa e arrastando o companheiro para a margem.
Quando, ao fim de algum tempo, este se sentiu recuperado, pegou num estilete, dirigiu-se a uma pedra e nela escreveu: Hoje, o meu melhor amigo salvou-me a vida.
Intrigado, o outro perguntou:
- Porque é que, depois de te bater, escreveste na areia, e agora, que te salvei, foste escrever na pedra?
A sorrir, o primeiro respondeu:
 - Quando um grande amigo nos ofende, devemos escrever na areia, onde o vento do esquecimento e do perdão se encarrega de apagar as palavras. Quando, porém, faz por nós alguma coisa de verdadeiramente nobre, ah... Aí devemos gravar as palavras que o recordam na pedra da memória e do coração, onde nenhum vento do mundo as poderá apagar.
 E assim se acharam reconciliados. E comeram, beberam e conversaram alegremente. Depois puseram-se a contemplar a Lua e as estrelas até o cansaço os vencer. E mergulharam, por fim, num sono profundo e retemperador.

FIM





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