segunda-feira, 28 de novembro de 2016

"Quem conta um conto, acrescenta um ponto" - 6º ano

Este conto nasceu ao longo do mês de novembro, de um trabalho colaborativo entre a biblioteca, os alunos do 6º ano e os respetivos  professores de português.



Se acreditares, consegues!

Fonte da i,agem: www.ultracurioso.com.br



       Era uma vez, uma terra de que nunca ouviste falar, onde os sonhos se tornam realidade. Nessa terra, habitava uma menina chamada Joana que sofria de bullying. Nunca disseram à Joana que vivia numa terra mágica em que os sonhos se tornam realidade apenas com um estalar dos dedos, mas, um dia, quando já frequentava o 6º ano, leu no jornal a seguinte notícia:



Mistério na cidade
Há na terra dos sonhos alguém que nunca estalou os dedos.

Os computadores da central da cidade registam o nome de uma menina que nunca tentou realizar os seus sonhos.
Os serviços de apoio ao cidadão feliz andam à sua procura.



         Nem acabou de ler a notícia para experimentar, mas, muito aflita, percebeu que não sabia estalar os dedos.
         A primeira ideia que lhe veio à cabeça foi o professor de música,  mas, teve azar, porque quando chegou à escola ele não estava. Mais desanimada ainda, foi à biblioteca à procura de algum livro de música que pudesse ensiná-la a estalar os dedos.

         Naquela terra tudo era especial e mágico, por isso,  quando a Joana abriu o livro, mergulhou lá dentro, de verdade. O livro era um mundo em branco. À sua volta, em todos os lados era o nada.
         Assustada com aquele mundo vazio, de um silência aterrador, olhou ao seu redor à procura de alguém que a pudesse socorrer.
         - Está aí alguém? - gritou desesperada.
         Como não via ninguém, como ninguém respondia, pôs-se a andar, andar, andar, andar, a correr, a correr, a correr, até que, completamente esgotada, se deixou cair no chão, fechou os olhos e pensou numa coisa fresca, que lhe matasse a sede. Quando abriu  os olhos viu uma fonte, vinda do nada. De seguida, pensou num jardim encantado e, à sua volta, tudo se encheu de flores, de riachos de águas transparentes, de peixes e borboletas. Realmente, o lugar era lindo! Levantou-se e ouviu ao longe uma voz melodiosa. Seguiu o som e encontrou-se numa praia  fluvial onde um senhor cantava e tocava harmónica.
         Largando o instrumento musical o senhor cumprimentou-a
         - Olá, Joaninha!
         Espantada, a menina perguntou:
         - Como sabe o meu nome?
         O senhor não respondeu e fez outra pergunta:
         - O que estás a fazer neste livro encantado?
         - Não sei bem, estava na biblioteca à procura de um livro que me ensinasse a estalar os dedos e, de repente, caí no livro.
         - Para que queres tu estalar os dedos?- perguntou o senhor.
         - Descobri que a minha cidade é mágica e quero pedir um desejo!- respondeu a Joana.
         - Então és tu a menina que nunca pediu um desejo?
         - Sim, sou eu. Descobri isso esta manhã quando li aquela notícia que informava  que na minha terra havia alguém que nunca estalou os dedos. Pensei logo que era eu, então vim à biblioteca  à procura do professor de música, que está lá muitas vezes. Nas aulas, ele costuma estalar  os dedos para marcar o ritmo. Como não o encontrei procurei num livro mas continuo sem encontrar solução. Infelizmente, não tenho amigos na escola, ninguém gosta de mim, gozam todos comigo, tudo isso…. Em resumo,  sofro de bullying e não tenho amigos. Eu queria muito mudar isso. – disse a Joana muito triste.
         - Pois é, compreendo. Eu, como senhor habitante deste livro vou ajudar-te a realizar esse desejo. Os livros sabem tudo, são boas  fontes de conhecimento do mundo.  E o meu conhecimento do mundo diz-me que a solução para o teu problema está fora deste livro. Joana, vais voltar para a realidade, é lá que o teu problema tem que ser resolvido. Lembra-te sempre que tu és uma parte muito importante para resolver tudo. Vai…

         De repente a Joana estava de novo na biblioteca da escola. Aberto, nas suas mãos,  tinha um livro “ Os amigos são fantásticos”.
         Levantou os olhos, observou a sala à sua volta e viu muitas crianças a ler livros, outras a ver um filme, a jogar jogos de mesa…
         Levantou-se e foi ter com uma menina que também estava sozinha:
         -Olá! – perguntou a Joana – Como te chamas?
         - Olá, chamo-me Lara. E tu?
         - Eu chamo-me Joana.
         -Quantos anos tens? - perguntou a Joana entusiasmada.
         - Tenho dez anos. – respondeu a Lara – Não costumas vir à biblioteca, pois não? Nunca te tinha visto.
         - Pois, eu evito os lugares onde há mais gente. Sou tímida, sabes?
         - Entendo, mas às vezes temos que falar com os outros.
         - Acho mesmo que sou vítima de bullying. Eu sei que se estalar os dedos posso resolver o meu problema, mas também não sei estalar os dedos. Tu sabes? Podes ajudar-me?
         - Posso-te ensinar a estalar os dedos , mas para fazer amigos é preciso mais do que isso. Não queres pensar em falar, olhos nos olhos, com os colegas que gozam contigo?
         A Joana achou que era um conselho de amiga. Foi até ao recreio e dirigiu-se aos colegas. Mas, quando os encontrou ficou desanimada porque a reação deles foi a mesma de sempre.
         - “Olha a múmia! Ressuscitou dos mortos”
         A Joana, com as lágrimas nos olhos, teve vontade de desistir, mas lembrou-se da mensagem do senhor habitante do livro encantado e ganhou coragem para os enfrentar.
         - Vocês sabem o que é uma múmia?
         - Uma múmia é alguém que não abre a boca, como tu! – respondeu o Afonsino.
         À sua volta todos se riram, mas a Joana manteve-se forte e mesmo com as pernas a tremer conseguiu explicar:
         - Uma múmia é o cadáver, o corpo de uma pessoa muito importante como por exemplo os reis, do antigo Egito, mais conhecidos por faraós. O povo egípcio por causa da sua crença na vida para além da morte mas também por respeito e devoção ganhou o costume de embalsamar algumas pessoas.
         - Eu também já li que algumas pessoas embalsamavam os seus animais de estimação.- disse uma voz entre o grupo.
         - Também é verdade – explicou a Joana. Eu gosto de História e de conhecer os costumes dos povos. E tu? De que disciplina gostas mais?
         - Eu gosto mais de Ciências. Já agora,  chamo-me Edgar – disse o rapaz.
         Sem que a Joana tivesse tido necessidade de estalar os dedos, aquele grupo de colegas começou a conversar entre si sobre os seus gostos e interesses. Pela primeira vez na vida sentiu-se confiante. Estava mais do que feliz, mas mesmo assim  tinha de aprender a estalar os dedos porque não queria ser a única pessoa da cidade a não saber fazê-lo. Nem de propósito, o Edgar fez-lhe outra pergunta:
         - Ouviste falar daquela notícia “Mistério na cidade”?
         A Joana respondeu, envergonhada:
         - Essa menina sou eu! Eu só soube que se podia pedir desejos quando a li.
         - Tens de experimentar dançar. Às vezes, quando dançamos fazemos esse gesto para acompanhar a música. É um gesto normal.
         O Afonsino, que ouviu  a conversa, disse-lhe com toda a sinceridade:
         - Eu acho que não te posso ajudar porque não tenho muita paciência para ensinar, mas estou a ter uma ideia agora mesmo. Na escola há o Clube de Atividades Rítmicas, podes-te inscrever, quem sabe?

         Entretanto deu o toque para a entrada e todos voltaram para a sala de aula. O professor Zeca Afonso, de Formação Cívica, escreveu no sumário:  "Comemoração do S. Martinho" e, logo de seguida, voltaram para o recreio para fazer um magusto que ficou muito divertido com a chegada do Grupo Folclórico de Santa Eulália. Foi assim que a Joana, a dançar à volta da fogueira, aprendeu a estalar os dedos.
         Ela nem queria acreditar!!!
         Agora, naquela  terra de que nunca ouviste falar, todos os seus habitantes, sem exceção, concretizam os seus sonhos com um simples estalar de dedos.

         O primeiro sonho que a Joana quis concretizar foi entrar no livro encantado para contar ao seu único habitante a felicidade que sentia.
  
Alunos do 6º ano do Agrupamento de Escolas de Caldas de Vizela
Novembro 2016


Boa leitura!







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