segunda-feira, 28 de novembro de 2016

"Quem conta um conto, acrescenta um ponto" - 9º ano

Este conto nasceu ao longo do mês de novembro, de um trabalho colaborativo entre a biblioteca, os alunos do 9º ano e os respetivos  professores de português.

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A voz


Eu tinha chegado tarde à escola. Os corredores já estavam vazios e os meus passos ressoavam na minha cabeça. Ao abrir a porta da minha sala de aula vi que estava vazia. "Que é isto?"

Larguei a correr, picado por uma ponta de aflição. Depois de procurar em todos os cantos da escola, não encontrei viva alma. Pensei:

- Que dia é hoje? Será que é feriado? Há alguma greve?

Liguei o meu telemóvel, fui ao calendário ver o dia da semana e reparei que tinha uma SMS de um amigo: “Não vás à escola.”

Ansiosamente perguntei:

- P-o-r-q-u-ê-?

Logo a seguir caiu nova mensagem: “Gui, se estiveres aí, sai rapidamente!”. Senti-me em pânico, como se não conhecesse a minha escola. Lancei-me a correr, desesperado. Atrás do eco dos meus passos soou-me o eco de outros passos, pesados, cada vez mais próximos de mim. As luzes do corredor apagaram-se e deixei cair o telemóvel.

A tremer, tentei apanhá-lo, mas, logo que me debrucei, senti algo a agarrar-me. O medo apoderou-se de mim, fechei os olhos e pensei "Chegou a minha hora!"

Possuído por um imenso terror, reconheci uma voz... Aquele timbre era-me familiar.

- Quem és? - perguntei virando-me a medo.

Não havia ninguém. Gemendo de medo, baixei-me para apanhar o telemóvel . Partira-se na queda.

Numa tentativa desesperada de abandonar aquele lugar, agora tão sinistro, dirigi-me às portas tentado abri-las sem sucesso. Estavam bloqueadas. Precipitei-me para o meu cacifo à procura de qualquer coisa que me pudesse ajudar, mas não tive sorte.

Sentindo-me derrotado, comecei a vaguear pelos corredores quando a voz se fez ouvir de novo, primeiro num murmúrio arrastado e longínquo, depois cada vez mais próxima. Era um timbre grave... era um timbre grave... era a voz do meu professor de matemática!! O que faria o professor de matemática na escola naquela situação? Teria ele esquecido os testes do 9ºC, ou teria esquecido o seu aristo? Não me parecia que fosse tão simples e eu estava à espera do pior. Não me enganei. A minha faceta de detetive entrou em ação e, logo num primeiro olhar, vi que na sua mão, em lugar de segurar a régua graduada de 50cm, empunhava uma arma branca. Fiquei à espera do ataque, mas ele não veio. A sua voz soou como um trovão: “Para saíres daqui, terás que encontrar a chave do portão da escola. Tens trinta minutos. Se não conseguires, espera por consequências.”

Com o coração aos saltos e a respiração muitíssimo acelerada, corro de sala em sala à procura da chave. Chego à última sala do 2º piso e encontro a minha namorada acorrentada. Na parede, há uma mensagem rabiscada “A chave está dentro do coração dela”.

Morri de medo. Em choque, fiquei momentaneamente paralisado. Lentamente, tirei-lhe a fita que lhe tapava a boca. Assustada, mas decidida, disse-me:

- Mata-me para te salvares!

Eu? Matá-la? Nunca lhe tinha dito, mas na verdade, mais do que a minha primeira namorada, era o amor da minha vida.

- Não me peças isso. Não te vou matar, mas diz-me quem te trouxe até aqui? O que é que aconteceu?

- Não sei. Eu vim mais cedo para a escola, para acabar o trabalho de Educação Visual. De repente comecei a sentir-me observada e quando rodei a cabeça para olhar à minha volta, alguém se colocou ao meu lado e começou a caminhar comigo. Com um voz que me pareceu muito perigosa ameaçou matar-me se não enviasse uma SMS todos os meus amigos a avisar para não virem à escola hoje. A todos menos a ti. Aterrorizada, fiz o que ele me estava a mandar. Nem sequer lhe vi a cara. Mal entrei no portão da escola tapou-me a boca e arrastou-me para aqui. Acho que desmaiei de susto e acordei agora que entraste.

No meio da minha angústia, enquanto examinava a sua cara e o seu corpo, para ver se encontrava ferimentos, reparei que tinha ao pescoço um fio de ouro com um medalhão em forma de coração. Como não o conhecia, perguntei-lhe:

- Que medalhão é este?

- Do que é que estás falar?

-Deste medalhão em forma de coração!

- Não sei, não me assustes mais, isso não é meu.

O tempo estava a esgotar-se.

Desapertei-lhe o fio a analisei o medalhão. Ao passar a mão pelas figuras de alto relevo que o decoravam ele abriu-se. Lá dentro, num pequeno papel cuidadosamente enrolado, havia uma mensagem: “Sabes que dia é hoje?”

Ouvimos o toque de campainha que conhecíamos muito bem. O tempo terminara.

Confuso, agarrei a Joana pela mão e arrastei-a pelo corredor. De repente, começamos a ouvir vozes e um altifalante gritava: “Todos os alunos devem dirigir-se para a cantina da escola”. Sem sabermos como, de todos os lados surgiram alunos, colegas, amigos nossos que se dirigiam para cantina e que passavam por nós como se não nos vissem.

Hipnotizados pela situação, seguimos as ordens sem uma única palavra.

Para meu espanto encontrei a cantina cheia, parecia uma espécie de reunião geral de estudantes. Quando nos viram a chegar, receberam-nos com palmas e gritos como se fossemos dois heróis. No meio daquela multidão, levantou-se um cartaz gigante que dizia "Parabéns, Gui!".

E aí, agora sem arma, sem voz ameaçadora, entrou o professor de matemática que me entregou uma t-shirt da minha banda preferida Guns N'Roses. Um sorriso rasgado abriu-se na minha cara. Olhava para a t-shirt, para a Joana, para o professor, confusão na minha cabeça.

Foi então que ouvi a voz...

- Não posso acreditar... Axl Rose!

- Bem, uma camisola sem ser autografada não vale nada, pois não!?- exclamou o professor de matemática - Então vamos a isto. Joana, ajuda desse lado.

Num movimento repentino, a Joana e o professor de matemática abriram as portas para o exterior... e... incrivelmente... Guns N'Roses para mim, no dia do meu aniversário, na minha escola! Melhor aniversário de sempre!

O despertador toca. "Bom dia, Gui, feliz aniversário!"


Alunos do 9º ano do Agrupamento de Escolas de Caldas de Vizela, novembro 2016

Boa leitura!






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